Regiões Produtoras do Brasil e suas características

Por Ronaldo Muinhos, Diretor e especialista em café do Buenavista Café.

Que o Brasil é o maior produtor de café nós já sabemos, mas em quais regiões do país são produzidos os grãos de café que abastecem o mundo todo e também chegam até as nossas xícaras?

O café chegou ao Brasil em meados de 1720, através de uma expedição à Guiana Francesa, comandada pelo então governador do Grão-Pará (atualmente as regiões do Maranhão, Amazonas e Pará), João da Maia Gama. Com ordens expressas de conseguir algumas mudas de café, ficou incumbido ao Sargento-Mor, Francisco de Mello Palheta, a execução do plano de conseguir as mudas à qualquer custo, mesmo que clandestinamente. História ou lenda, expulso da Guiana sem as mudas, Palheta conseguiu algumas sementes através da esposa do governador da Guiana, que havia se apaixonado por ele. Mas isso é assunto para um outro Post.

O café, a despeito da forma com que entrou no país, expandiu-se rapidamente graças ao clima favorável, e passou a ocupar um lugar de destaque na geração nacional de riquezas. A cultura desenvolve-se por várias regiões, passando por Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, mas foi em São Paulo, no Vale do Rio Paraíba, em 1825, que essa atividade deu origem a um novo ciclo econômico no país.

A expansão do café no Brasil.
A expansão do café no Brasil.

Arábica x Robusta

O Brasil produz ambas as variedades comercialmente produzidas, Arábicas e Robustas (conhecido também por Conilon). Juntas, a produção nacional estimada em  2016 segundo a ICO (International Coffee Organization) foi de 55 milhões de sacas de 60Kg.

A área plantada do café arábica no país soma 1,78 milhão de hectares, o que corresponde a 81% da área existente com lavouras de café.

Produção em hectares. Fonte Conab 2017.
Produção em hectares. Fonte Conab 2017.

No Espírito Santo está a maior área plantada de Conilon do país, 266,47 mil hectares, seguido de Rondônia, com 83,34 mil hectares e logo após, a Bahia, com 49,12 mil hectares, concentrada na região do atlântico. Os três estados concentram 93,4% da área cultiva no país, sendo o Espirito Santo responsável por 62,4% da área total.

Produção em hectares. Fonte Conab 2017.
Produção em hectares. Fonte Conab 2017.

Regiões

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Minas Gerais

Minas Gerais concentra a maior produção mundial de arábica do país com 24,04 milhões de sacas de arábica anual e 334,1 mil sacas de conilon.

1) Sul de Minas

O clima e o relevo favoráveis, aliados a uma produção artesanal da bebida, são os segredos da premiada região. No sudoeste dessa região, há cidades produtoras, como Guaxupé, que tem a maior cooperativa do Brasil, a Cooxupé, e as cidades de Varginha e Três Pontas. O Sul de Minas tem temperatura amena entre 18ºC e 20ºC e altitudes elevadas de até 1.400 metros. Tornou-se um dos principais produtores de cafés especiais do Brasil. Os grãos produzidos em sua região Sudoeste possuem corpo médio, acidez alta, adocicado, com notas florais e cítricas e nas áreas de montanha, corpo aveludado, acidez alta, adocicado, com notas de caramelo, chocolate, amêndoa, cítricas e frutadas. O Sul de Minas é responsável pela produção de 13.219 mil sacas de arábica.

2) Região Mantiqueira de Minas (Indicação Geográfica)

mantiqueira de minas Situada na face mineira da Serra da Mantiqueira, no sul do estado de Minas Gerais, está a região da Mantiqueira de Minas. Com uma tradição secular na produção de cafés de qualidade, a Mantiqueira de Minas é hoje uma das regiões mais premiadas do Brasil. Em 2011, foi reconhecida como Indicação Geográfica (IG), na modalidade Indicação de Procedência (IP), pela sua tradição e reputação mundial em produzir cafés especiais com um perfil sensorial altamente diferenciado. Esses são cafés raros e surpreendentes, refletindo a combinação de um terroir único e do saber fazer local que busca continuamente a excelência. Produz 1.340 mil sacas ao ano.

Entre os municípios destaca-se Carmo de Minas, uma pequena cidade que conquistou muitos prêmios, considerada a “Capital Mundial dos Cafés Especiais”. Outras cidades na região que se destacam em produção são Conceição das Pedras, Paraisópolis, Jesuânia, Lambari, Cambuquira, Cristina, Dom Viçoso e Pedralva. Os grãos Cereja Descascado (Via úmida) possuem notas cítricas e florais, corpo cremoso e denso, acidez cítrica com intensidade média alta, doçura alta e finalização longa, já os Naturais (Via seca) possuem acidez média-alta cítrica, floral, frutado, corpo cremoso e denso, acidez média-alta e doçura alta.

3) Chapada de Minas

A mais nova fronteira de Minas Gerais, explorada para o plantio de café, é a Chapada de Minas, no Vale do Jequitinhonha, onde está a cidade de Capelinha, que concentra parte importante da produção local. Entre as cidades produtoras estão também Angelândia, Montes Claros e Buritizeiro. Grãos produzidos aqui possuem como características o aromas de caramelo, frutas passa, corpo denso, acidez cítrica com notas de capim limão. Atualmente produz 602,9 mil sacas, sendo 486 mil sacas de café arábica e 116,9 mil sacas de conilon.

4) Matas de Minas

matas de minasA Região das Matas de Minas é uma origem produtora
de cafés especiais, composta por 63 municípios, como Diamantina, Presidente Kubitschek, Manhuaçu, Ervália, Araponga e Viçosa.
Está situada em uma área de Mata Atlântica, no leste do
Estado de Minas Gerais. Produz 6.578,2 mil sacas, sendo 6.361 mil sacas de café arábica e 217,2 mil sacas de conilon. Como características sensoriais, destacam-se o sabor adocicado com notas cítricas, de caramelo e chocolate, aroma intenso com notas florais à cítricas e corpo elevado, acidez delicada e equilibrada e finalização persistente.

5) Cerrados de Minas

Os cafés do Cerrado de Minas Gerais são caracterizados pela bebida fina, corpo forte e excelentes aroma e doçura. São produzidos em altitudes entre 800m e 1.200m. A região tem estações bem definidas com verões quentes e chuvosos seguidos por invernos secos e frios. Ou seja, o clima ideal para o cultivo de cafés naturais de alta qualidade. O padrão climático do Cerrado é singular e ajuda a produzir excelente cafés Arábica processados por via natural (secos ao sol). A florada é concentrada, o amadurecimento é uniforme e é acompanhado por bastante luminosidade, ajudando a fixar aroma e doçura.

6) Cerrado Mineiro (Denominação de Origem)

regiaocerradomineiroO fruto começou a ser cultivado na região tardiamente, na década de 1970, por agricultores paranaenses que fugiam das geadas e paulistas que enfrentavam o problema de nematoide. Na época não havia tecnologia que permitisse plantar na região. Por meio da calagem (técnica que corrige a acidez do solo) e da irrigação, o cultivo em grande escala tornou-se possível. Os cafeicultores também investiram na qualidade e foram pioneiros na produção do café especial, com origem e qualidade garantidos. O Cerrado Mineiro apresenta clima seco durante o período da colheita, o que faz com que o café sofra menos com a umidade depois de colhido. A região, que abrange 55 municípios localizados no Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas, conquistou a Denominação de Origem em 2013 e foi a primeira de café do país a receber este reconhecimento. As principais cidades produtoras são Patrocínio, Monte Carmelo, Araguari, Patos de Minas, Campos Altos, Unaí, Serra do Salitre, São Gotardo, Araxá e Carmo do Paranaíba. As principais características do café produzido nesta região são o aroma intenso, com notas de caramelo e nozes, acidez delicada e cítrica, encorpado, sabor doce com notas de chocolate e finalização longa duração. Produz 5.000 mil sacas ao ano.

São Paulo

Ao todo, o estado de São Paulo produz cerca de 4,33 milhões de sacas ao ano e tem como principais regiões produtoras a Alta Mogiana, que se prolonga além da fronteira com Minas Gerais, Mogiana, Média Mogiana, Marília e Garça e Ourinhos e Avaré.

7) Alta Mogiana (Indicação Geográfica)

alta mogianaTradicional produtora de cafés, congrega quinze municípios paulistas como Altinópolis, Batatais, Buritizal, Cajuru, Cristais Paulista, Franca, ltirapuã, Jeriquara, Nuporanga, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Restinga, Ribeirão Corrente, Santo Antônio da Alegria e São José da Bela Vista, e oito municípios mineiros, Claraval, Capetinga, Cassia, Ibiraci, Itamogi, Sacramento, São Sebastião do Paraíso e São Tomas de Aquino, distribuídos em meio aos polos cafeeiros de Franca, Pedregulho (um dos municípios mais altos do estado) e Altinópolis. Os cafés produzido aqui possuem aroma marcante, frutado com notas de chocolate e nozes, corpo cremoso aveludado, acidez média e muito equilibrada e finalização prolongada com uma doçura de caramelo e notas de chocolate amargo.

8) Mogiana

A bebida produzida nesta região é bastante encorpada, com aroma frutado e sabor suave e adocicado. Uma das mais tradicionais regiões produtoras de café Arábica, a Mogiana está localizada ao norte do estado de São Paulo, com cafezais a uma altitude que varia entre 900 e 1.000 metros. A temperatura média anual é bastante amena em torno de 20°C. A região produz somente café da espécie Arábica, sendo que as variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo.

9) Média Mogiana

Nesta região, a maior concentração de café fica em São João da Boa Vista. É uma área climaticamente apta para o grão, montanhosa e com alguns municípios acima de 1.000 metros de altitude, produtividade alta e de muito boa qualidade. Tem como limitação a mecanização em áreas de topografia acentuada. A produção de café abrange cinco dos 16 municípios produtores, sendo alguns deles Espírito Santo do Pinhal, Santo Antônio do Jardim e São João da Boa Vista. Os grãos possuem boa acidez, doçura média, corpo médio, notas de chocolate, castanha e nozes.

10) Marília e Garça

Na região de Marília e Garça, a expansão do café ocorreu um pouco mais tarde, no começo do século XX. A umidade é baixa, o que possibilita produzir uma bebida de ótima qualidade e que rende prêmios à região. A colheita mecanizada é prática comum, pois a topografia plana favorece a técnica, o que otimiza o tempo de trabalho, reduz a mão de obra e, consequentemente, diminui os custos de produção. O arábica é predominante, com milhares de pés, e agricultura familiar. O planalto reúne treze municípios com lavouras de café. Os cinco maiores produtores são Garça, Gália, Vera Cruz, Alvinlândia e Álvaro de Carvalho.

11) Ourinhos e Avaré

Os municípios de Piraju, Tejupá, Timburi, Fartura, Ourinhos e Sarutaiá destacam-se entre os que mais produzem cafés premiados na região. O maior problema enfrentado pelos produtores é a umidade relativa do ar, que provocava uma fermentação maior no café. A solução encontrada foi ao adoção do tipo cereja descascado. A região de Ourinhos é a terceira mais produtiva do estado. Os cafés produzidos nesta região possuem corpo médio, elegante, com acidez cítrica, aromas de erva-cidreira e capim-limão e finalização adocicada.

Bahia

Com produção anual de 3,36 milhões de sacas, o estado possui três regiões produtoras, Cerrado, Planalto e Atlântico Baiano.

12) Planalto Baiano

A região produção 690 mil sacas ao ano. Com altitude média de 850 metros e temperatura amena, as características são ideais para o cultivo do arábica. A colheita é feita durante o inverno chuvoso e exige maior atenção dos produtores na hora da secagem. Entre as cidades desta região destacam-se por seus prêmios, Piatã, Mucugê, Ibicoara, Vitória da Conquista, Barra do Choça e Poções. Seus cafés são encorpados e aveludados, adocicados, com acidez cítrica, notas de nozes, chocolate e final prolongado. A região está subdividida em Chapada Diamantina, Planalto de Vitória da Conquista e Serrana de Itiruçu\Brejões.

13) Cerrado Baiano

Apesar do cultivo recente, iniciado há apenas uma década, o café do Cerrado Baiano consolidou-se rapidamente. Hoje, a cultura ocupa uma área de 13 mil hectares e é responsável pela produção de aproximadamente 500 mil sacas ao ano. Para enfrentar o clima seco e o solo arenoso, as fazendas contam com modernas técnicas de irrigação, sendo que a mais utilizada é a do pivô central, o equipamento funciona girando em torno de um eixo enquanto irriga áreas circulares. As principais cidades produtoras são Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério. Cafés produzidos aqui são encorpado e com baixa acidez.

14) Atlântico Baiano

Localizado ao Sul da Bahia, esse polo também investe em qualidade. Os grãos de robusta são processados pela via úmida (cereja descascado ou lavado), técnica já bastante comum também entre os produtores de arábica. Produz anualmente 2.380 mil sacas de robusta.

Espírito Santo

O estado produz 5.915 mil sacas de conilon e 2.920 mil sacas de arábica.

15)  Montanhas do Espírito Santo

O café produzido nesta região montanhosa, acima de 400 metros, é o arábica. A partir da década de 1980, foi iniciado um trabalho de melhoria da qualidade. As técnicas tradicionais foram substituídas por novas máquinas, o que possibilitou maior controle no processamento do grão. As principais cidades produtoras são Afonso Cláudio, Venda Nova do Imigrante, Alfredo Chaves e Castelo. Características do café, encorpado e com acidez de média a alta, doçura e boa complexidade de aromas.

16) Conilon Capixaba

O Espírito Santo concentra a maior produção de robusta do Brasil. É responsável por 59,6% da produção nacional desse grão. O cultivo de conilon no estado ganhou força após a década de 1960, época em que o governo federal lançou o plano de erradicação dos cafezais, depois de uma série de problemas enfrentados pela cultura. Com a recuperação das plantações, em 1970, a reimplantação do arábica se restringiu às áreas de montanhas. Assim, para as regiões mais baixas (400 metros), surgiu a cafeicultura do conilon. Em pouco tempo, e apesar de alguma resistência ao plantio, o grão passou a ocupar espaços deixados pelo arábica, consolidando-se em terras capixabas. O trabalho dedicado de pesquisadores no estado levou a um grande avanço tecnológico no setor, com seleção de melhores materiais genéticos, lançamento de variedades clonais e investimentos em processamento e pós-colheita para a melhoria no padrão de qualidade da bebida.

Paraná

O estado do Paraná é responsável pela produção anual de 1,21 milhão de sacas.

17) Norte Pioneiro do Paraná (Indicação Geográfica)

norte pioneiroA região dispõe de fortes cooperativas, institutos agronômicos e de pesquisa e ainda produtores empenhados para que o crescimento da cafeicultura seja forte e constante. A Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp) e a Cooperativa de Cafés Especiais e Certificados do Norte Pioneiro do Paraná (Cocenpp) abrangem 45 municípios e contam com a participação ativa de aproximadamente 300 produtores. As principais cidades são Jacarezinho, Ribeirão Claro, Carlópolis, Ibaiti, Abatiá, Joaquim Távora, Pinhalão, Santo Antônio da Platina. Os grãos desta região apresentam corpo médio, doce, com acidez média e notas de chocolate e caramelo.

18) Paraná

A cultura cafeeira foi implantada em 1930 e hoje o estado ocupa o quarto lugar na produção brasileira. O Paraná é responsável por 2,25% do cultivo de café no País. Além da região norte do estado, há produções no centro e no oeste paranaense. Mesmo com o declínio após o ciclo de geadas dos anos 1960 e 1970, o café ainda é um importante produto agrícola dessas duas regiões, sendo o que mais gera renda na atividade agrícola do município de Apucarana. Outras importantes cidades da região são Londrina e Maringá. Apenas o arábica é cultivado em plantações adensadas, que usam variedades adequadas ao clima mais frio da região.

Rondônia

19) Rondônia

Estado da região Norte do Brasil, tem uma produção anual de 1,94 milhões de sacas e cultiva exclusivamente café conilon (robusta). A cafeicultura é tradicional e familiar, com pequenas propriedades.

Rio de Janeiro

20) Rio de Janeiro

Atualmente, o Rio de Janeiro possui 1.420 propriedades produtoras de café, as quais produzem anualmente 349,1 mil sacas de café arábica. A geração de empregos é da ordem de 3.500 postos de trabalho diretos, sendo 1.500 permanentes e 2.000 temporários. Possui duas regiões, a nordeste, com cafeicultura mais tradicional e a região serrana, que tem se destacado pela busca por arábicas de alta qualidade, com destaque para as cidades de  Bom Jardim, Duas Barras e Trajano de Moraes.

Fontes:

[1] Acompanhamento da Safra Brasileira V. 4 – SAFRA 2017, Setembro 2017. Conab;
[2] BSCA – Cafés Especiais do Brasil;
[3] Relatório sobre o mercado de café – Setembro de 2017. Internacional Coffee Organization.

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  48. Ronaldo, mais uma vez um excelente artigo sobre o mundo do café. Fico feliz com a normatização e divulgação das indicações geográficas. Um processo que já é comum na Europa com queijos e vinhos, por exemplo. Dá maior transparência ao consumidor e valoriza o produtor, a região e o produto, ao destacar suas características e sua identidade. Parabéns!

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